Peregrinação parece algo difícil para você? Quando comecei a peregrinar, eu também acreditava que era loucura simplesmente sair por aí nessas caminhadas longas, confesso. A olhar de fora, a peregrinação pode parecer ser algo difícil e cansativo, porém foi caminhando que descobri que não é um bicho de sete cabeças e, principalmente, percebi o quão transformador pode ser o simples ato de caminhar…
Aliás, sendo breve, muito prazer, sou Antônio Jr, o Peregrino. Desde 2014 me aventuro por longas jornadas. Caminhei por trajetos que são verdadeiros ícones da peregrinação, como o Caminho de Santiago, na Espanha, e a Via Francigena, na Itália, e nos mais tradicionais caminhos do Brasil.
Confesso que na primeira vez não compreendia exatamente o que encontraria, me baseava apenas pelos depoimentos de outros peregrinos e só sabia que tinha que ir, ver e sentir com os meus próprios olhos… ou pés, na verdade. Alguma coisa dentro de mim me instigava e me chamava para o Caminho de Santiago e, assim, me lancei… Atendi ao chamado dele!
Na minha primeira peregrinação parti de bicicleta e foi uma experiência incrível, mesmo com a velocidade da bike sendo mais acelerada. Tanto que ao final queria mais… Então busquei por algo mais lento, que pudesse ser mais intenso para me entregar por completo.
Poucos anos depois eu estava no Caminho de Santiago novamente, agora para fazê-lo a pé, com o corpo e mente entregue à experiência. Desta vez eu já entendia o porquê de estar ali, caminhando numa estrada que não só me mostrava lindas paisagens, mas uma rica história e cultura e que também poderia me levar para dentro de mim.
Mas hoje, aqui nesse texto, vou focar em você e te mostrar que você também pode caminhar. Afinal, todos nós podemos. Seja em uma peregrinação ou não, seja em algum lugar próximo de onde mora ou uma caminhada longa, longe de casa. Essa é a ação mais democrática que conheço.
O que é uma peregrinação
A peregrinação nada mais é que o ato de viajar caminhando. Em todo o mundo há rotas de peregrinação que são muito procuradas por pessoas de diferentes países. Aliás, algumas dessas rotas existem há milhares de anos.
Embora o ato de peregrinar tenha tido durante muitos anos uma conotação religiosa, atualmente muitas pessoas fazem por outros motivos: hobby, atividade física, espiritualização, autoconhecimento, cultura, história ou até mesmo a trabalho. Uma peregrinação tem algo muito poderoso dentro de si.
Tudo começa com um passo
A princípio, a única e mais importante coisa a ser feita é caminhar e, para isso, é fundamental dar o primeiro passo. Diferente da bike, do montanhismo ou de qualquer outra modalidade de “aventura”, a peregrinação só exige um passo de cada vez, no seu ritmo, sem competição, sem pódio, sem pressa.
De passo em passo, você não só consegue alcançar um objetivo, mas muda toda a perspectiva de mundo e de vida que tem atualmente. Esses primeiros passos te mostram que você é capaz de caminhar e ir cada vez mais longe.
Aliás, costumo dizer que a caminhada é democrática, porque ela não escolhe um tipo físico, uma idade, nem mesmo classe social, nível de conhecimento, etnia ou nem nacionalidade. É só o ato de andar e qualquer pessoa saudável no mundo pode fazer isso.
Peregrinação também é olhar para dentro de si
Quando viajamos sozinhos temos tempo o suficiente para conhecer uma nova cidade, um novo país, uma nova cultura… mas, além disso, somente em nossa própria companhia, temos um tempo para olhar para dentro, encarar a mente e arrancar de lá aquilo que não nos pertence.
Nas caminhadas costumamos esvaziar o corpo e a mente para que novas oportunidades tenham espaço. Com a mente e o coração abertos, muitos fardos podem ser retirados das suas costas numa jornada peregrina.
Na peregrinação isso começa a acontecer quase que de forma automática: quando menos espera, você já está entregue ao caminho, olhando para o passado como um centro de lições, lembranças e aprendizados, e para o presente, totalmente mergulhado em seus pensamentos e crenças.
Dessa forma, de passo em passo, assim como as pegadas, temos a oportunidade de deixar para trás as coisas ruins e abrir a mente para o novo. Acredito que caminhar em uma peregrinação é a melhor maneira para se aprender ou reaprender algo. É o jeito mais simples de se libertar daquilo que não faz mais parte de você e limpar cantinhos da mente para criar algo novo e bom.
Ainda, confesso que nunca me dei bem com a meditação, mas caminhar me leva a um estado meditativo que jamais imaginei alcançar. Quando descobri essa façanha, entendi que essa era uma maneira muito eficaz de aquietar a mente para que os pensamentos entrassem em ordem.
Por isso, peregrinar também é olhar para dentro. Passinho por passinho, você vai descobrindo mais de si, fica cada vez mais perto daquilo que deseja alcançar e aos poucos vai se transformando numa versão melhor de si.
Sobre a peregrinação em outro países
Voltando ao ato de caminhar, a peregrinação é uma forma incrível de conhecer e se conectar com um novo destino. Em longas caminhadas, acho simplesmente magnífico poder contemplar e conhecer de verdade um povo e suas tradições.
Recentemente, em minha última peregrinação, caminhei pela Marcha do Sal, o mesmo caminho que Gandhi fez em 1930. Nesse trajeto de 380 quilômetros conheci a beleza e o caos da Índia. Convivi por quase vinte dias com pessoas de uma cultura totalmente diferente e aprendi muito, simplesmente caminhando e deixando a jornada fluir.
É seguro peregrinar sozinha?
Mas muitas pessoas me perguntam (mulheres, em sua maioria): é seguro fazer uma peregrinação sozinha?
A saber, na maioria das rotas, os trajetos são seguros. Há toda uma infraestrutura para atender aos peregrinos. Existem caminhos com mais estrutura e outros com menos. Alguns são mais difíceis, outros nem tanto. Em alguns, você encontrará outros inúmeros peregrinos e em alguns, a sua jornada talvez seja solitária. Por isso, é bom pesquisar mais sobre o caminho que deseja fazer antes de partir.
Além disso, os próprios moradores dos arredores do caminho são muito receptivos e afetuosos. Já entre os peregrinos rolam conversas e momentos de partilha. Aliás, é comum que em alguns caminhos há alguém para conversar, compartilhar a experiência e aprender algo.
Ademais, albergues, pousadas e hotéis para peregrinos também se dedicam a oferecer uma boa experiência para cada pessoa que está em peregrinação. Assim, além de poder caminhar em segurança, há sempre um local preparado e aguardando a sua chegada.
Enfim, convido você a conhecer o mundo de uma perspectiva diferente. Que tal começar a caminhar pelo parque, pelo bairro e em outros cantos da sua cidade? Acredite em mim: se você gosta de viajar sozinha, pode gostar ainda mais de caminhar por lugares novos e, quem sabe, até se aventurar por uma peregrinação.
Por onde começar
No Brasil mesmo há bons caminhos para serem a porta de entrada nesse universo peregrino: Caminhos de Caravaggio, no Rio Grande do Sul, pela pouca quilometragem e baixo nível de exigência física; o Caminho da Fé, que apesar de ser mais difícil, sempre tem peregrinos prontos para acolher e ajudar; e o tradicional Caminho de Santiago (Francês), que apesar de possuir a rota tradicional mais longa, com um bom planejamento pode ser facilmente superado por qualquer peregrino.
Agora que instiguei você, comece a se movimentar através da caminhada. Tenho certeza que logo você estará vivenciando o poder mágico de uma longa jornada. Conte sempre comigo e “pés” à obra.
Projeto Caminhos Peregrinos
Deixo aqui meu convite para você conhecer o projeto Caminhos Peregrinos, onde caminharei por cinco das principais rotas de peregrinação de todo o mundo. Três deles já estão completos e você pode conferir pelos meus livros fotográficos, onde compartilho um pouco dessa experiência singular. E na dúvida, me coloco à disposição. Caminhar é a melhor coisa que você pode fazer por si, então comece agora mesmo!
